Maternidade sustentável é mais do que fraldas reutilizáveis
Maternidade sustentável é mais do que fraldas reutilizáveis
As fraldas reutilizáveis são parte da maternidade sustentável, mas há mais que pode fazer para combater as alterações climáticas, poupando no orçamento familiar
Confirmada a gravidez, rapidamente a lista de compras multiplica: enxoval do bebé, fraldas, biberões, artigos de higiene, artigos para a casa e para o carro e afins. Se é o seu caso, saiba que não é único: é muito fácil perdermo-nos no meio de tantos artigos para pré-mamã e bebé. Uma tarefa que pode levar a que, de repente, se veja a braços com uma série de “essenciais desnecessários”. Por isso, antes de comprar, informe-se sobre o que é essencial e o que é supérfluo.
Leve emprestado
Roupas de bebé, especialmente para os primeiros meses de vida, berço, banheira, troca-fraldas, esterilizador de biberões, cadeira para o carro e até mesmo o sling ou marsupial e o carrinho de bebé, são artigos que são usados durante períodos pontuais, mas que depois deixam de ser necessários e são guardados até nova oportunidade de serem usados. É precisamente por esta razão que não deve hesitar em solicitar a ajuda de familiares e amigos que tenham filhos e que possam emprestar-lhe o que precisar. Depois é só devolver e fazer o mesmo com coisas que venha a adquirir.
Se tiver um bom relacionamento com a comunidade onde reside, tem ainda a opção de criar um grupo de troca entre pais, aproveitando roupa e outros artigos em bom estado de uns para os outros – para compensar os pais das crianças mais velhas (que acabam por dar mais do que recebem), os demais podem juntar-se de vez em quando e oferecer-lhes um cheque-oferta, por exemplo.
Levando emprestado vai possibilitar-lhe poupar bastante dinheiro que pode usar para outros fins como uma conta-poupança para o bebé, por exemplo. Esta é aliás uma prática a adotar ao longo da vida, quando o objetivo é uma vida mais sustentável: reutilizar as roupas de amigos ou familiares. Há peças que dada a qualidade e/ou reduzido tempo de uso se mantêm impecáveis, por isso, porque não aproveitar?
Compre e venda em segunda mão
Há muitas coisas que podem ser também compradas em lojas de segunda mão, como a Kid to Kid, OLX, Marketplace do Facebook, entre outras, onde pode ainda vender aquilo de que não precise, desde enxoval a mobiliário e brinquedos para bebé e criança.
Aproveite também para pedir emprestado a amigas ou familiares roupa de pré-mamã; são peças que só serão usadas temporariamente, por isso não faz muito sentido comprar tudo novo.
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Produtos de higiene
Aqui o lema é recuperar um pouco as tradições antigas e optar por produtos mais amigos do ambiente. Sabonete sólido embalado em papel ou cartão, champô sólido ou um versátil sabonete líquido neutro, vegan, 100% natural, que pode ser usado não só para a higiene diária como a lavagem da roupa do bebé, etc.
No que toca à higiene do bebé e lavagem da roupa, prefira produtos com ingredientes naturais, sem cheiro, menos irritantes.
Evite igualmente esponjas de materiais sintéticos não recicláveis, e opte por toalhetes ou luvas de algodão, ou esponjas Konjac, por exemplo.
Limpeza mais verde
Bebés e crianças em casa significa muita coisa para limpar. Do chão à mesa e cadeira de bebé, sem esquecer os brinquedos, há sempre algo a sujar-se, especialmente quando começam a comer alimentos sólidos. Optar por produtos de limpeza amigos de ambiente é uma excelente forma de proteger o planeta. E o melhor de tudo é que com três ingredientes que geralmente temos em casa – vinagre, sumo de limão, bicarbonato de sódio – consegue-se limpar praticamente tudo.
Bebés em casa significa também máquinas de roupa a duplicar ou triplicar. Lave apenas quando a máquina estiver cheia, prefira temperaturas baixas e detergentes amigos do ambiente. Aproveite ainda as condições climáticas do nosso país para secar a roupa ao ar, reduzindo ao máximo o uso de máquina de secar. Pode também aproveitar para comprar detergente a granel e com isso contribuir para reduzir o plástico nos oceanos.
Fraldas reutilizáveis e toalhitas
5500! É este o número de fraldas que uma criança usará, em média, até aos 2 anos, de acordo com os cálculos da Smart Medical Solutions, considerando que até aos 3 meses um bebé gastará 7 fraldas por dia, ou seja aproximadamente 630 ao longo destes 90 dias. Já dos 3 aos 6 meses, seis fraldas por dia (540); dos 6 aos 24 meses, 5 fraldas por dia (4500). Se optar por fraldas descartáveis, serão mais de 5 mil unidades super poluentes e, sobretudo, não biodegradáveis, cuja produção é responsável por elevadas emissões de CO2 e consumo elevado de água. São também responsáveis por um volume considerável de lixo. Já para não falar do número de árvores abatidas: são necessárias cinco árvores para se produzirem 5500 fraldas.
A isto há ainda que somar o impacto no orçamento familiar, uma vez que mesmo fazendo as contas por baixo, considerando 0,11€ por fralda (tamanho 2 de marca branca), no mínimo terá de contar com perto de 600€ só para fraldas. Uma pequena fração deste valor dá-lhe para comprar vários conjuntos de 3 fraldas de algodão brancas sem substâncias nocivas ou irritantes para a pele, a 9,99€ por pack (preço indicativo), disponíveis em hipermercados.
Em alternativa, é também possível encontrar no mercado fraldas reutilizáveis, disponíveis em vários tipos: tudo em um, que são as mais parecidas com as descartáveis (existem em tamanho único, servindo desde o 1.º dia de vida até ao desfralde, e em tamanhos S, M e L); tudo em dois, que conjugam uma fralda ou absorvente com uma capa impermeável (existem também em vários modelos e tamanhos e em tamanho único).
Se a isto juntar toalhitas também elas descartáveis, no mínimo uma por cada muda de fralda, o cenário torna-se ainda mais negro no que toca ao ambiente e também ao orçamento familiar. Não é uma escolha fácil, reconhecemos: as fraldas e as toalhitas descartáveis são muito mais práticas. Uma solução de compromisso é usar maioritariamente fraldas e toalhitas reutilizáveis, e deixar as descartáveis para ocasiões pontuais, como saídas, festas, férias, etc., ou pelo menos optar por versões biodegradáveis, como as feitas em fibra de bambu ou outros materiais orgânicos.
Quem fala em fraldas fala também de resguardos, disponíveis em versão reutilizável no mercado.
À hora da refeição
Nos primeiros meses de vida, se não amamentar, opte, sempre que possível, por fórmulas biológicas e/ou orgânicas, e faça o mesmo com as papas. Evite os alimentos processados e prefira produtos de época, como fruta e legumes, são mais nutritivos e também mais saborosos. Dê também preferência a produtos locais. Não menos importante, habitue-se a confecionar as refeições: além de saber exatamente o que está a dar aos seus filhos, garante-lhes uma alimentação saudável, variada e mais económica. Não faltam indicações nem ideias ou receitas.
Se amamentar e puder, doe algum do seu leite ao Banco de Leite Humano, destinado a bebés prematuros da Maternidade Alfredo da Costa e outras Unidades Neonatais da área da Grande Lisboa.
Não ao plástico
Segundo informação veiculada pela ONU, o plástico representa 80% do lixo marinho. É, portanto, urgente evitar o seu consumo, optando por soluções mais amigas do ambiente, como embalagens de vidro, de tecido, papel ou cartão, silicone, bambu, borrachas biodegradáveis ou naturais. Isto aplica-se também ao bebé: prefira chupetas de borracha natural e brinquedos sem plástico ou em materiais como madeira sempre que possível.
Consumo mais consciente
É bom fomentar o consumo consciente desde tenra idade e o berço é uma boa altura para começar. As crianças não precisam de armários cheios de roupa e brinquedos, por isso convém transmitir-lhes desde cedo, bons hábitos de consumo, como:
- Entra um brinquedo ou peça de roupa, sai outra; no Natal, por exemplo, ou num aniversário, habitue-se a fazer uma seleção do que tem em casa e que já não é usado e dê a outras crianças.
- Brinquedo ou roupa estragada podem ser reparados. Nem sempre é possível, mas um fecho novo pode dar nova vida a um estojo ou mochila, os lápis de cera partidos podem ser derretidos, os brinquedos transformados em novos brinquedos ou coisas novas, e muitos podem ser criados de raiz, como os papagaios de papel (pipas).
- Cada vez que entra numa loja não tem de trazer novas compras.
- Sempre que possível, opte por produtos provenientes de comércio justo (Fairtrade), um modelo certificado que visa aliar o comércio a princípios de justiça, condições de trabalho seguras, pagamento justo, equidade e solidariedade.
Estas são apenas algumas ideias do que pode fazer para ter uma maternidade sustentável e assim combater as alterações climáticas, ao mesmo que tempo que poupa no orçamento familiar. Basta dar o primeiro passo.
C de contenção
Os anúncios de uma gravidez e de um nascimento de um bebé são por norma seguidos de uma “avalanche” de presentes, como demonstração de afeto e carinho, muitos deles em duplicado ou triplicado – e ainda não chegámos ao 1.º Natal e 1.º aniversário –, outros desnecessários e outros ainda a que dará pouca ou nenhuma utilidade. Uma forma de o prevenir é, sobretudo com quem tiver confiança, adiantar-se e fazer uma lista dos itens que pretende, garantia de que receberá de facto os artigos sustentáveis e amigos do ambiente de que precisa. Pode também encorajar as pessoas mais próximas a oferecerem prendas em conjunto.
Se mesmo assim receber brinquedos, fraldas descartáveis e outros artigos a mais, pode doá-los a instituições que acolham grávidas e/ou bebés ou a famílias carenciadas; serão certamente bem-vindos.